A breve busca encantada de Winnie

por WINNIE HANSEN
parte 2


O Centro é composto por três fazendas principais e algumas outras áreas. Cada construção, cada mata, cada jardim, cada cantinho ali tem uma energia peculiar, específica, e a beleza de certos lugares é capaz de colocar-nos instantaneamente em profunda reverência e silêncio.
O Silêncio, o verdadeiro Silêncio, deveria ser considerado a mais pura e mais perfeita expressão do Criador, porque está em todos os lugares e momentos, em todas as formas de vida, em todos os seres, em todos os mundos...
Nós, os bons seres humanos, sentimo-nos tão cheios de conteúdo, de razões e certezas, tão profundos e sábios, porque gastamos nossas vidas aprendendo e ensinando aquilo que nos parece ideal. Pobres de nós, que mergulhados em absurda superficialidade, gastamos toda a vida em buscas vãs, que não nos permitem sequer sairmos de nosso próprio universo individual e egocêntrico.
O equilíbrio da Vida mantém-se perfeito quando os níveis de amor existentes em um ser ultrapassam os limites de sua natureza. Até que ponto nossa vida, tão pequena e insignificante, mantém-se em equilíbrio e harmonia? Pobres de nós, que cremos ser amáveis e amar a tantos outros. Conhecemos o verdadeiro Amor?
Naquele novo mundo, aprendíamos há abrir um pouco mais os olhos e a consciência de forma a perceber todos os seres e vidas que existissem por onde passávamos. Depois de percebê-los, deveríamos então devotar-lhes profundo respeito e reverência, por ser parte do Todo. Em seguida aprendería-mos a amá-los com amor tão profundo e verdadeiro, que nos permitisse entender, não de maneira funcional e utilitarista, o verdadeiro propósito, a Tarefa de cada um daqueles em que pousávamos os olhos, ou que percebêssemos de alguma forma, porque tudo que vive é nosso próximo.
Na Fazenda eu fui parte de um grupo de crianças e jovens que, como eu, buscavam de alguma forma um novo conceito de vida. Passávamos a maior parte do tempo juntos: nas tarefas com o reino vegetal, também chamado Natureza, nos trabalhos com música, nos momentos de estudos, nas orações. E o tempo cuidou de aproximar-nos o suficiente para nos sentirmos irmãos, para nos tornarmos um grupo.
No começo desta experiência morávamos na mesma área e nossa principal tarefa era cuidar das árvores e dos lagos. Lá aprendemos a deixar de lado o hábito de ver a Natureza como algo a ser explorado e utilizado. Não cortaríamos um galho para que posteriormente a árvore nos desse mais fruto, não arrancaríamos alguma planta porque não nos servia mais, não alimentaríamos os peixes para depois comê-los, e tampouco tínhamos lagos para criar peixes. Tudo era feito em função de manter harmonia e equilíbrio perfeitos, porque não estávamos ali para ganhar alguma coisa ou para sermos felizes, deveríamos ser servidores daquele mundo.
Meu Deus! Será possível que não enxerguemos o quanto estamos como humanidade, distantes da Vida? Quantos rios nós matamos com produtos químicos inúteis e com toneladas e toneladas de dejetos? Quantos milhões de quilômetros quadrados de florestas milenares nós destruímos para criar naqueles espaços animais que servirão apenas para saciar-nos desejos instintivos e estimular-nos a gula? Quanto tempo gastamos em cuidados absolutamente desnecessários com nosso corpo? Quanto tempo perdemos na ilusão de acumular montanhas daquele papel chamado dinheiro? Quantas de nossas criações foram benéficas à todo o planeta? Será que nos permitimos fechar-nos tanto em nosso egoísmo, que já não temos como romper a crosta de futilidade que nos envolveu?